SEIDI SÃO PAULO

O que vier na cabeça, sem revisar os textos.

Friday, March 03, 2006

 

Líquido Básico

Tenho uma amiga, Maria Cristina, loira, bonita e bem casada.

Ela tem um apelido: Básica.

"A Básica chamou a gente para comer pizza no Braz" me avisou Cláudia.

Fiquei repetindo na minha mente: básica, básica, básica...que palavra engraçada. E hoje está em todos os lugares: pretinho básico (provavelmente a sua origem); kit básico; saia básica; pacote básico, marketing básico. Namorado básico. Que tem um rostinho básico, mas salário nada básico...

No trajeto diário da casa até o trabalho passo por uma loja de roupas, na alameda Lorena. Chama-se
Lei Básica. Toda vez que eu vejo a placa, percebo que estou rindo sozinho, num riso contido, esquisito.

Historicamente possuimos os chamados vocabulários passageiros, da época. Porém, atualmente vejo que muitos deles são bastante convenientes, fáceis, líquidos, cinza. Nada de radicalismos.

Além do básico, existe o de repente.

"De repente dou uma passada aí".
"De repente, João pode ficar no mesmo quarto de Maria"

Um amigo mexicano dava gargalhadas com o nosso de repente. Ele substitui o talvez, provavelmente, pode ser.

Um outro curinga é o tipo.

"Tipo aquele cara da TV"
"Tipo você está escalando uma montanha, tipo com bicicleta, tipo no meio da madrugada"

Tem o significado de como, semelhante a(o). Os jovens usam em qualquer situação,
para poder dar uma pausa nas frases, por ser conveniente e não ter de pensar nas palavras exatas, claras.
As pessoas de origem japonesa usam muito. Tipo, tipo, tipo, né.
Preste atenção no seu amigo nissei. (Se bem que o já está sendo descartado pelos jovens da geração atual).

Falando em japoneses, no Japão existe a palavra betsuni. Usado também por jovens. Literalmente significa nada específico, mas é uma daquelas palavras estepe. Usa-se quando estiver com preguiça de expressar opinião ou não sabe o que responder.

"O que você achou do jantar de hoje, filho?"
"Betsuni..."
"Por que você está assim, pensativo?"
"Betsuni..."
E assim por diante.

O que era sólido desmanchou. É a modernidade líquida, dissecado no livro do sociólogo polonês Zygmunt Bauman. Hoje vivemos um momento líquido, sem a sua textura exata, fluido e sempre pronto para mudar a sua forma.

Modernidade Líquida
Zygmunt Bauman
Jorge Zahar Editor
260 páginas
R$ 41,00

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