SEIDI SÃO PAULO

O que vier na cabeça, sem revisar os textos.

Wednesday, February 15, 2006

 



Carnevale

Está chegando o Carnaval, uma das festividades que não me excita tanto há alguns anos, juntamente com Natal, Reveillon e aniversário.

Provavelmente ficaremos por aqui, ir ao MAM para ver a nova mostra do Pierre Verger, dar uma passada na exposição dos dinossauros no Oca, embriagar com as estrelas virtuais no recém aberto planetário do Parque do Carmo. Espero que estejam abertas pelo menos uma dessas atrações.

Quando eu era assalariado, tirava férias nessa época. Estive sempre ausente nos trópicos. No final do século passado (séc.XX), nos meus vinte e tantos anos, fui a França e a Itália, de mochila e trem, beirando a costa mediterrânea.

Assim que coloquei o pé em Nice, senti o clima discreto de Carnaval. Era manhã ensolarado de fevereiro. O vento gelado batia no meu rosto. A orla, com sua praia de pedregulho e clima dos anos 1930 estava com as arquibancadas montadas. Com enfeites coloridos, as ruas pareciam estar na época de Natal. Extasiado com a beleza da cidade, caminhei por muito tempo. A tarde, iniciou-se a parada de Carnaval. Os carros alegóricos carregando belas francesinhas em fantasias tímidas deslizava vagarosamente. As músicas eram, tudo menos tropical com muitos carros tocando techno. Uma versão comportada do Love Parade. Ao cair da tarde a cidade foi tomando um ar mais tranqüilo, com famílias passeando, cada um entrando num café aqui, num bistrô ali. A melancolia invadiu em mim, que estava só na cidade. Decidi partir logo da cidade. Permanecer ali me sufocava.

No trem para a Veneza, eu estava na companhia de um rapaz japonês que conheci em Roma. Na poltrona da frente sentava uma moça italiana, folheando uma revista de fofocas. Iniciamos a conversa. Dissemos a ela o nosso destino, e então exclamou:"Carnevalle de Venezia! Che bello!" Ela tinha certeza de que iríamos para o famoso Carnaval de Veneza. Sim aquela de máscaras. Porém, estávamos desinformados sobre isso, e apenas demos um sorriso artificial e concordamos com ela: "Si, Carnevalle!" Nós nos comentamos em japonês, em tom confidencial, "que sorte, vamos poder ver o famoso Carnaval de Veneza".

Obviamente a cidade estava lotada de gente. Haverá disponibilidade nos hotéis? Passou pela minha cabeça um quadro negativo da situação. O único lugar que achamos foi um pequeno hotel, onde uma velhinha tosca nos atendeu. Nos mostrou um indecente quarto, ou cubículo, que havia uma cama, de casal, que ocupava todo o espaço. Nem um espaço para por os pés. Teríamos de entrar já deitando na cama. Impossível. A velha gritou, dedo em riste: "Não vão encontrar mais nenhum lugar, idiotas!" Não entendo muito italiano, mas suponho que ela tenha dito isso.

Desistimos de procurar hotéis. Afinal, é Carnaval. Vamos aproveitar ao máximo! Dançar, beber, paquerar até o sol raiar

Chegamos a Praça São Marco. Cena de uma confraternização linda, máscaras, fantasias...E cadê a música? Parecia um saguão de teatro antes de entrar para ver o espetáculo. Lá pelas 9 da noite iniciou-se o tal espetáculo. Um pequeno palco montado no centro da praça. Parece que naquele ano o tema era "África". Uns negros chacoalhavam ao som de tambores. Os turistas também seguiram o ritual.

Depois da meia-noite a música cessou por completo e as pessoas iniciaram o regresso aos seus "albergos". Ficamos novamente desesperados, procurando algum abrigo. Andamos contínuamente para não congelarmos. Em uma charmosa piazza no meio do labirinto veneziano, encontramos uma barraca de bebidas onde todos os notívagos da cidade estavam fazendo a festa. Ficamos lá até 4 da manhã, quando o nosso corpo solicitou por repouso.

Sem alternativa, passamos a noite na Stazione Ferroviaria Santa Lucia. O saguão da estação estava bem iluminado, e lotado de desavisados como nós. Cenário de abrigo para refugiados. O chão estava quentinho e relativamente limpo. Fomos acordados pelas cutucadas nos nossos pés, pelo funcionário da estação, avisando que iria abrir o estabelecimento para público. Sentimos como mendigos da Praça da Sé.

Foi um Carnaval diferente. Como não tenho compromisso com Escolas de Samba, continuarei buscando experiências exóticas como este. Por isso vou ficar em São Paulo neste Carnaval.

O Brasil de Pierre Verger
15 Fev a 26 Mar
MAM - Grande Sala
Parque do Ibirapuera, portão 3 - s/nº
Tel.: (11) 5549-9688

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