SEIDI SÃO PAULO

O que vier na cabeça, sem revisar os textos.

Saturday, February 25, 2006

 

A Misteriosa Vila


Chega-se à vila de Paranapiacaba por uma estradinha que inicia no Riacho Grande, um entroncamento à beira da represa Bilings, com seus restaurantes e bares populares e barquinhos simples, um cenário que remete à lembrança de algum país castigado do mediterrâneo, como Albânia.

A partir daí, a viagem dura cerca de 30 minutos. Situado no município de Santo André, na Grande São Paulo, Paranapiacaba nos recebe com densa neblina, confirmando sua fama de “um pedacinho da Inglaterra”.

A sua origem remonta a 1856, quando o Barão de Mauá e a recém criada
empresa inglesa São Paulo Railway Co., receberam, por decreto de
D. Pedro II, o direito de explorar a ferrovia que ligaria o interior paulista ao litoral.
A expansão da cultura do café dependia de meios eficazes para o escoamento
da produção até o porto de Santos. As obras foram iniciadas em 1860,
seguindo o projeto de engenheiros ingleses.

Após a inauguração do sistema ferroviário, parte de operários e técnicos
permaneceu no local do acampamento da obra para fazer a manutenção,
constituindo ali conglomerado de habitações construídas em estilo inglês.
Em 1907, este vilarejo passou a chamar Paranapiacaba (do tupi-guarani, "lugar de onde se avista o mar").

Estacionamos o carro e a poucos passos estávamos na Parte Alta da vila,
com ruelas sinuosas e misteriosas, ornadas com construções de inspiração portuguesa.
Num ambiente melancólico, como dum vilarejo esquecido, muitas construções resistem ao tempo, mesmo deterioradas com paredes descascadas e janelas quebradas.

A partir desta zona é possível avistar a Parte Baixa, um vale de montanhas
verdes, e coberta pelo nevoeiro, se espalham casinhas “inglesas” de madeira.
Como não são feitos de tijolos escuros, é difícil sentir-se em “Londres”,
apesar da vila possuir uma réplica do Big Ben, na estação ferroviária.

Atravessando a ponte da estação, entramos na Parte Baixa. De perto,
as casas lembram as de alguma vila de pescadores do nordeste da Inglaterra.
Lembrei-me também da Ushuaia, na Terra do Fogo, que possui construções semelhantes.

Antes, a disposição das moradias respeitava uma ordem hierárquica.
Casas maiores e não geminadas pertenciam a apenas uma família de ingleses.
As demais eram distribuídas aos funcionários da ferrovia de acordo com a
qualificação da mão-de-obra, da posição social e do seu estado civil.

Hoje, as casinhas abrigam, além de moradores fixos, as pousadas (aqui, as placas indicam que são Bed & Breakfast), cafés, lojas, e restaurantes interessantes.

Os donos dos estabelecimentos parecem ter fugido do “inferno urbano”
de São Paulo e se instalaram ali, num canto charmoso servindo comida charmosa,
um pouco intelectual (sim, comida intelectual, aquela “comidinha caseira”).

Um dos donos desses restaurantes nos olha e cumprimenta: “Boa tarde!”.
Cláudia percebe que ele está com um belo cachorro, parado como uma
estátua de porcelana. “Bonito, não é?” Ele diz com orgulho.
É um homem de aproximadamente 50 anos, cabelo rente,
com óculos de design moderno, e completando sua aparência asséptica,
um avental branquinho. Tem porte do dono de um charmoso bistrô.
Deve possuir, na sua cabeceira, exemplares de Wilde ou Proust.
“Temos hoje um delicioso picadinho com feijão, quibebe e farofa”.
Com voz tranqüila, nos sugere a tal comidinha caseira. De forma diplomática,
respondemos: “vamos dar mais uma voltinha. Talvez almoçaremos aí”.
Ele sorri cordialmente, sem demonstrar aborrecimento, pois esse negócio,
para ele, é apenas um hobby.

Em algumas horas já havíamos andado a vila inteira, inclusive algumas ruas,
por repetidas vezes. Havíamos visitado pequenos museus, lojas de artesãos,
até aventurado na extremidade da vila, ao pé das montanhas.

“Quer voltar para aquele restaurante do cachorro?” Pergunta Cláudia,
demonstrando a fome.

“Parece legal. Mas é muito silencioso” respondo, indeciso. “Não havia uma única mesa ocupada...”.

Retornamos a entrada da vila, uma espécie de praça central, onde há música ao vivo,
jovens sentados na calçada, um local agitado. Decidimos sentar numa das
lanchonetes animadas. O prato pedido é composto por dois bifes “sola de sapato 45”,
um caminhão de arroz, batata frita, salada básica, por R$ 10,00.
Serve mais de 2 pessoas, claro. Um preço indecente, se comparado ao
do “restaurante do cachorro”.

Enquanto apreciamos a comida, surge um grupo de motoqueiros de enduro.
Dizem que Paranapiacaba é uma das passagens desses roteiros.
Homens sujos de barro, capacete Shoei debaixo do braço e macacão dos patrocinadores invadem as mesas. Esfomeados, engolem o prato, vomitam as palavras,
e em vinte minutos já estão partindo. “Cidadezinha sem graça”.
Um deles comenta. Nem imaginam o que se passa aqui,
nem o que se passou no século 19.

Sentimos que era a hora de retornarmos. Foi muito tempo para fazer turismo, porém, pouco tempo para conhecermos o espírito desta vila misteriosa encravada na Serra do Mar.

Ironias à parte, estando de coração aberto, esta vila é inspiradora, instigante e dá vontade de ficar por alguns dias. Para criar alguma obra de arte ou escrever um romance, quem sabe.

Alguns dados foram extraídos do site oficial, com divertido layout de mansão fantasmagórica: http://www.portaldeparanapiacaba.com.br/

Site sobre Cidades Históricas do Brasil.
Infelizmente ainda não constam as cidades da região Sul.
http://www.cidadeshistoricas.art.br/


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